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domingo, 26 de setembro de 2010

ABSURDO: Para emagrecer, limeirense consome crack e fica dependente

Dependentes de drogas, quando procuram um serviço de saúde, têm receio ou vergonha de contar os motivos que os levaram a experimentá-las, ou simplesmente não querem comentar sobre o assunto. De acordo com a psicóloga Tânia Mileny Seraphim, não existem justificativas para o uso de substâncias que só trazem prejuízos à saúde. No entanto, uma limeirense não se acanhou e assumiu que passou a consumir crack apenas para emagrecer. 


Ela não é uma adolescente em fase de experimentação, que gostaria de correr risco, se aventurar. É uma mulher casada e tem filhos. Relatou aos especialistas que estava fora do peso e queria encontrar uma forma de emagrecer rapidamente. Conforme Tânia, que é assessora departamental do Ambulatório de Saúde Mental, realmente perdeu cerca de 40 quilos, mas adquiriu um outro problema, muito mais grave, que é a dependência química. “Casos como este impactam, mas somos profissionais, precisamos ajudar a tratar o problema, expor as circunstâncias e não a pessoa, para que sejam evitados novos casos”. 
Na internet, basta realizar uma busca e são encontrados diversos relatos, inclusive de modelos, que começaram a usar crack, cocaína e outras drogas com o simples objetivo de emagrecer. “É o cúmulo, mas infelizmente existe. O pior é que existe a falsa ideia de emagrecimento com o uso de determinadas substâncias. O que ocorre, ao menos no caso do crack, é desnutrição”, explica Gerson Hansen Martins, secretário municipal da Saúde. 

CONSTATAÇÃO
Recentemente, análise realizada em determinado bairro de Limeira em indivíduos que assumiram o uso de cocaína e crack, detectou desnutrição a partir do Índice de Massa Corporal (IMC). Cerca de 15 passaram por triagem. O trabalho, feito por internos (estudantes de Medicina) da Santa Casa que fazem estágio na rede básica de saúde, não teve caráter científico. Porém, foi um ponto de partida para o planejamento de um trabalho de prevenção que será realizado no bairro. O secretário e a assessora departamental não revelaram onde o trabalho será realizado. 
Martins, que há mais de 15 anos atua no serviço público de saúde, conta que, antigamente, a preocupação com desnutrição era em relação às crianças. “Hoje, percebemos casos graves nos dependentes químicos”. 

CAPS AD
A rede pública até oferece atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Álcool e Drogas (AD), mas o grande desafio, conforme a assessora, é a adesão dos pacientes. “A maioria dos pacientes é adolescente e eles nos dizem que basta querer para deixar o vício. Falsa ilusão. É difícil porque muitas vezes não conseguem se afastar do grupinho de ‘amigos’ e não têm o apoio dos pais. Alguns dos próprios pais são dependentes de álcool. Como vão ter forças para se recuperar?”. A mulher que consumiu crack para emagrecer está se recuperando com o apoio da família. O tratamento dura, no mínimo, dois anos e meio.
Tânia diz que a fase da abstinência é muito difícil. A dependência tem aumentado e atingido, conforme a psicóloga, todas as classes sociais. Por isso, a equipe multidisciplinar do Ambulatório de Saúde Mental estrutura-se para iniciar um trabalho de conscientização nas escolas, a partir do próximo ano, já com crianças de 10 anos. “Tivemos paciente que usou crack aos 9 anos”. 

Os efeitos devastadores; você se arriscaria?
O emagrecimento repentino é apenas um dos efeitos do crack porque o organismo passa a funcionar em função da droga. O dependente mal come e dorme. O uso do crack altera o centro da fome: há uma hiperdosagem de neurotransmissores e o indivíduo não sente necessidade de outras coisas. Também provoca hiperatividade, insônia, cansaço intenso, uma forte depressão e desinteresse sexual com o passar do tempo. Os usuários de crack podem apresentar comportamento violento. Eles são facilmente irritáveis. Tremores, paranoia e desconfiança também são causados pela droga. Normalmente, os usuários têm os lábios, a língua e a garganta queimados por causa da forma de consumo da substância. Apresentam também problemas no sistema respiratório, como congestão nasal, tosse, expectoração de muco preto e sérios danos nos pulmões. O uso mais contínuo pode causar ataque cardíaco e derrame cerebral. Contrações no peito, seguidas de convulsões e coma, também são causadas pelo consumo excessivo da droga. (Renata Reis)

O que é a droga
O crack é uma mistura de cocaína em forma de pasta não refinada com bicarbonato de sódio. Esta droga se apresenta na forma de pequenas pedras e pode ser até cinco vezes mais potente do que a cocaína. Sua principal forma de consumo é a inalação da fumaça produzida pela queima da pedra. É necessário o auxílio de algum objeto como um cachimbo para consumir a droga, muitos desses feitos artesanalmente com o auxílio de latas, pequenas garrafas plásticas e canudos ou canetas. Os pulmões conseguem absorver quase 100% do crack inalado.

“Perdi 40kg, mas também todo meu salário. Precisei afastar amizades”
Um jovem limeirense, 29 anos, que preferiu não ser identificado, relatou o drama de mais de um ano que viveu em função do crack. Quando experimentou a droga pela primeira vez, pesava cerca de 110 quilos. Não demorou muito para chegar aos 70 quilos. “Não perdi apenas peso, mas todo o meu salário e dignidade. Não cheguei a assumir para minha família, mas todos desconfiavam”. Ele não entrou para este mundo para emagrecer, mas foi uma consequência. As más companhias, como ele mesmo diz, incentivava. “No começo, todo mundo é bonzinho. Me davam as pedras e falavam: “Fuma aí, não dá nada não! Vamos dar uma ‘paulada’ [ou uma ‘pipada’]”. Depois, o jovem se viu sem dinheiro para mais nada. Gastava cerca de R$ 200 por semana, mas se tivesse R$ 1 mil em determinado dia, era totalmente destinado para o consumo. “O traficante de quem a gente pegava o ‘bagulho’ até fazia fiado. Era um mundo de atrações, tudo favorecia”, relata. O jovem conta que não tinha fome mesmo. Só queria o crack, assim como os ‘nóias’ com quem dividia, cerca de cinco, inclusive mulher, e grávida. “O efeito faz a gente perder a noção de tudo”. Foi seu patrão que percebeu a dependência, inicialmente pela rápida perda de peso associado ao comportamento, e ameaçou contar para toda a família. Ele refletiu, o que muitos não fazem, e se desesperou. Segundo ele, a primeira atitude foi cortar as companhias que o incentivavam a continuar consumindo. “Não foi fácil. meu corpo pedia, mas fui forte. Tive opinião e apoio. Aceitei a ajuda que me ofereceram”. Nesta semana, a Gazeta visitou a casa desse jovem. Era horário de almoço. Ele havia acabado de preparar polenta com frango no molho. Voltou aos 110 quilos, está namorando e afirma: “Droga não vale a pena”. (Renata Reis)

Tradução das gírias citadas
‘Dar uma paulada’ - Usar crack (pedra) usando lata como cachimbo
‘Pipada’ - Mesmo significado de ‘paulada’
‘Bagulho’ - Droga
‘Nóias’ - Viciados, drogados

Bebidas alcoólicas e cigarro também inibem apetite
Muitos fumantes temem largar o vício e engordar. Isso realmente pode acontecer, confirma o nutrólogo Renato Salibe Gullo. De acordo com ele, a nicotina gera sensação de prazer e o tabagista come menos. A bebida alcoólica também oferece sensação de saciedade. “As bebidas preenchem espaço. Por isso, normalmente, quem está bebendo prefere não se alimentar”. O que muita gente não sabe é que bebida alcoólica possui alto teor calórico. Segundo Gullo, um grama de gordura, por exemplo, tem nove calorias. Já um grama de álcool, sete calorias. “Ou seja, é quase a mesma coisa. No entanto, quem exagera na bebida e não come, além de poder engordar - as famosas barriguinhas -, fica doente com a ausência de outras substâncias essenciais para o organismo, como vitaminas e proteínas”. A orientação para quem é dependente, mesmo dessas drogas lícitas, é procurar um especialista. Os fumantes que têm medo de engordar após largar o vício precisam de alimentação equilibrada. Se a ansiedade for descontrolada, pode ter indicação medicamentosa. 


fonte:Gazeta de Limeira

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