Conhecida pelo papel da despachada Dona Jura de "O Clone", reprisada agora na Globo, Solange Couto está também na novela "Ribeirão do Tempo", da Record. A mãe de Marcio, 36, e Morena, 19, descobriu-se grávida agora, aos 54. O pai é o estudante Jamerson Andrade, 24, com quem está casada há um ano. A atriz diz estar fugindo da mídia para evitar que seu caso raro vire alvo de debate e preconceito.
Marcos Michael/Folhapress | ||
A atriz Solange Couto, que está esperando um menino, na praia da Barra da Tijuca, Rio |
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"Em dezembro, reclamei para meu médico que estava enjoada, irritada. Ele pediu exames. No laboratório, a atendente me perguntou: "Já fez o teste da farmácia? E eu: "Como assim?". Ela disse que era para confirmar a gravidez. "Quem está grávida?", perguntei. Eu estava fazendo exame de Beta HCG, e nem sabia o que era. Disse: "Meu médico está maluco!".Contei para meu marido, ele falou: "Vamos comprar o teste de farmácia agora!".
Nunca tinha manuseado aquilo. Se a mulher está grávida, aparecem dois pauzinhos. Estavam lá os dois pauzinhos, gritando! Não acreditei, nem imaginava.
Nem pensava em engravidar, achava que estava entrando na menopausa. Estava até fazendo reposição hormonal. A médica disse que tinha dado uma bagunçada nos meus hormônios.
O exame do laboratório saiu no dia 31 de dezembro. Fiquei absolutamente feliz.
Meus filhos, de 36 e 19 anos, disseram: "Maneiro!".
A gente estava se programando para adotar uma criança. Quem sugeriu a adoção foi meu marido. Eu disse que não queria mais que a relação continuasse, porque ele era muito novo.
"Você é novo, vai inventar de ter filho, eu não tenho tempo nem idade pra isso." Ele perguntou se eu seria capaz de amar uma criança que não saísse de mim.
Um mês depois que comecei a ir atrás da adoção, descobri que estava grávida. É aquela história da mulher que não consegue ter filhos, adota e fica grávida.
Aí a medicina vem e diz que isso é muito raro. Fico muito irritada. Não quero ir em programas de TV. Vão querer me botar numa berlinda que não quero sentar.
Não estou pedindo a ninguém para me estudar. Sou uma das exceções à regra. Que satisfação mais as pessoas querem? Vão me abrir para me estudar? Fazer DNA, sei lá que diacho?
Tenho um filho sendo gerado em mim. E ponto. Difícil? Sim. Raro? Sim. É um caso em 800. Mas acontece.
Não tenho nada contra quem recorre a tratamentos. Pelo contrário, eu aplaudo. Podem achar que não quero dizer [que fiz tratamento] porque acho errado. Não é isso. É só que, no meu caso, não aconteceu assim.
Tem muito preconceito. Não falam para mim, não são doidos. Mas dizem: "Nessa idade, tinha que ser avó". Dia desses, no supermercado, uma mulher falou: "Tsc, palhaçada". Não podia revidar porque não sabia se era comigo, mas só tinha eu e ela no corredor.
E o que é idade de ser avó? Por que depois dos 45 a mulher só pode ser avó? Se tiver saúde, vida sexual ativa, onde é que está o senão?
É preconceito, cara. Por que o homem não é tratado assim? É preconceito contra a mulher, e principalmente da mulher contra a mulher.
Quando saiu a notícia, começou um programa atrás do outro na TV falando de fertilização in vitro. Agradeço a preocupação, mas não me lembro de ter mandado conta para ninguém.
Tem gente que falou: "É mentira, daqui a pouco vai falar que perdeu o filho, é marketing". As pessoas questionam tanto por quê? Querem que eu aborte?
No começo, tive medo do meu organismo e como ia ser isso. Até por conta da isquemia cerebral transitória, que eu tive em 2008.
Quando fiquei grávida, fiz uma bateria de exames e vi que estava tudo bem. Só tomei cuidado nos três primeiros meses, não podia carregar nem a bolsa.
Agora, o risco acabou. Pela minha idade, não tem nenhuma recomendação diferente. Não tenho pressão alta, colesterol alto.
Cheguei a pensar: "Meu Deus, será que ele vai ter problema, ser especial?". E se for, pensava, vai ser bem-vindo do mesmo jeito. Tive receio, qualquer mãe tem.
Fiz o exame de translucência nucal, tinha um sério risco de o bebê nascer com problema. Depois, respirei aliviada, está tudo normal. Soltei todos os lastros."
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